10
Fev19
Ler para não errar
Ricardo Nobre
Façamos um exercício com uma notícia do Público de hoje (edição do Porto, p. 17), escrita pelo jornalista André Vieira:
- «chama à atenção para problemas nos edifícios de outra escola do concelho»: “chamar à atenção” significa “repreender”; o autor quer dizer “alertar”, por isso deve escrever “chama a atenção”.
- «O rol de anomalias que a EB de Matosinhos colecciona é extensa»: “rol” é um nome masculino, por isso o adjectivo “extenso” tem de estar no mesmo género.
- «Admite existir “alguns problemas” de exposição solar, causa para que a temperatura seja elevada nos espaços de aulas “durante todo o ano”, em particular na Primavera e no Verão, mas também no Inverno, circunstância que afirma verificar-se desde o início da sua construção»: seria tão melhor se no fim deste excerto escrevesse “desde o início da construção”, porque “sua”, pela sintaxe da frase, refere-se ao autarca citado.
- «esta situação em particular, uma das que mais afecta os alunos»: embora haja quem permita aqui um singular, deve escrever-se “uma das que mais afectam” (no plural porque o verbo concorda com o sujeito, “das [situações] que”).
- «instalação de telas protectoras nos vãos da muitas das salas»: falta de revisão, eliminar “da muitas”.
- «À posteriori»: faltou às aulas de latim; escreve-se “a posteriori”, porque a preposição “a” não se acentua graficamente (como nenhuma palavra latina).
- «Nesta operação terá sido gasto cerca de 200 mil euros»: falta de concordância; quando se refere mais do que um elemento (como são certamente 200 mil euros), o verbo vai para o plural, porque o sujeito controla a concordância verbal (“terão sido gastos”).
- «Nos últimos dias, garante estarem a ser realizadas obras, no sentido de colocar em todos os vidros do edifício películas protectoras para “reduzir significativamente”»: a citação perdeu o complemento directo; como o verbo “reduzir” é transitivo directo, a frase é agramatical.
- «Para resolver as outras situações foram contratados os “serviços necessários” à sua resolução»: frase prolixa porque dois complementos dizem a mesma coisa, o de fim “para resolver” e o indirecto “à sua resolução”. De novo problemas com o uso do possessivo “sua” (gramaticalmente, refere-se a “serviços”).
- «As obras, estão a ser operadas»: a vírgula não se usa entre o sujeito e o verbo; o enunciado (que na voz activa seria “[ele/alguém] opera obras”) levanta outras dúvidas, sobretudo pelo significado do verbo. As obras “fazem-se”.
- «Relativamente às fissuras nas paredes ou a problemas relacionados com as tomadas ou com o pavilhão, o autarca diz não estar a ser resolvido»: falta sujeito na oração infinitiva (“não estar a ser resolvido”: quem não está a ser resolvido? se se deduzir pelo contexto, é o “pavilhão” que não está a ser resolvido).
- «lista à que tivemos acesso»: o pronome relativo no complemento indirecto usa preposição “a”, mas não um artigo, por isso não há motivo para a contracção. Retirando o acento, regressa a preposição sozinha e a correcção gramatical: «lista a que tivemos acesso».
Para evitar este tipo de erros (doze erros gramaticais), é preciso ler muito. Mas para que os nossos alunos leiam é preciso que as escolas tenham condições.