03
Jan20
Lisbalbúrdia
Da série Lisboa para vir ver e não para viver
Ricardo Nobre
Já aqui falei dos ruídos excessivos nas cidades, e tenho de insistir no assunto porque parece que um navio no Tejo incomodou os habitantes e turistas de Lisboa que queriam dormir1. Por precaução, em situações de nevoeiro, os navios são aconselhados a usar a sirene. De novo, fala-se em poluição sonora, mas:
- quer-se o aeroporto no centro da cidade;
- acha-se normal haver festa em vários espaços ao ar livre, mesmo rente a zonas habitacionais;
- as obras são muitas, mas vão começar as piores de todas (as do metropolitano);
- está barulho, mas usa-se a buzina porque o carro da frente não arranca no segundo em que o semáforo fica verde ou o peão está a fazer travessia na via adequada;
- o barulho é excessivo, mas onde existem parques querem restaurantes e animação, derrube de árvores e chinfrineira;
- reclama-se da sirene do navio por causa da segurança, mas acha-se bem o fogo-de-artifício que andou a estalar em Lisboa muito antes e muito depois da meia-noite da passagem de ano (foram pelo menos quatro dias de estouros, sempre à noite, naturalmente), afinal, é bonito — melhor seria se um cacilheiro tivesse abalroado o navio, sempre era mais silencioso e atraente para mirones.
Não é o progresso, é a falta de planeamento.
1 Vivo a poucos metros do Tejo e não ouvi nada. Ou então pensei que fosse mais um piquenique electrónico (em inglês e com k, claro) num jardim qualquer.